fossa


Sonhei que gozava na cara de todas as garotas que já passaram pela minha vida, todas as que me abandonaram, me decepcionaram, todas as que eu já fiz sofrer. O inferno para onde elas foram tem mil entradas, eu contei sete. Eu espero o perfume, o suor erótico, o som dos passos, mas só a morte quer trepar comigo. A fossa me engole aos poucos, as pequenas derrotas lentas e cotidianas, as mais dolorosas, escarnosas. No feriado tudo fecha as portas, o céu, o inferno, todos os bares de misericórdia. Meu último cigarro roubado tem gosto de tristeza e câncer. A minha morte cheira a um animal pendurado no gancho do açougue, querendo ser escolhido entre os outros pra ser devorado no jantar por algum velho fudido, deslizar pra dentro do estômago e virar merda. Se arrastar pra casa no final do dia como uma reles trepada de quinta, esperando, esperando a merda sair do corpo, esperando o dia em que a gente vai sair dela.