Medusa
25 Aug 2016Ela era um travesti na casa dos 50 que se apresentava com um violão de aço tocando covers do The Velvet Underground. Todos sempre paravam para ouvi-la. Havia algo nela que chamava a atenção, muito além do fato de ser travesti. As unhas sujas, a maquiagem borrada, as rugas da bunda, tudo refletia sua arte, a mais sombria e obscena arte. Hoje ela veio tocar Venus in Furs. Era sua favorita. Durante as músicas, nos contava sobre suas transas. Teve uma vez em que dois gays fodiam na sua cama, um sarado arrombando o cabaço de um magrelo, enquanto ela se masturbava. Então se levantou, tirou um consolo de plástico e começou a meter no cara. Ele gemeu mas não parou de foder o outro e isso durou uns minutos até começarem uma dupla penetração no coitado e Deus tivesse piedade de sua alma. Ela tinha desejos que não cabiam dentro de si mesma. Seu apartamento sempre foi palco de inúmeras orgias. Sempre havia gente entrando e saindo de lá a qualquer hora do dia. Outra vez nos contou que lembra de todos os seus amantes. Ela sempre os obriga a usar camisinha e, logo após o sexo, escolhe um lugarzinho num papel de parede em seu quarto e amarra a camisinha com o nome do viado escrito acima. Tem uma verdadeira coleção.
Todas as noites ela vem ao Void de saia curta e com fendas nas laterais, os peitos imensos quase pulando pra fora do decote. Nunca usa calcinha; você nota logo o volume por trás da saia. Fica um bom tempo no bar, com o violão encostado, bebendo e tentando convencer o barman a fodê-la. Ela ri sabendo que não irá conseguir e leva seu violão para o palco onde nos encanta com sua arte obscena. Às vezes traz um amante para tocar enquanto ela dança e faz um verdadeiro strip-tease em cima do palco, com as notas distorcidas reverberando pelo lugar enquanto ela encena um show sexual e diabólico que fica na sua cabeça por uns dois dias. Depois da apresentação, escolhe uma mesa quase no final, mas não muito longe do palco, para se sentar e observar as pessoas e deixar que a observem. Alguém sempre vai em sua direção com dois copos na mão e pergunta se pode sentar. Dependendo do humor dela, quase sempre é um não. Se ela deixar que se sente, o avalia da inteligência ao tamanho do pau. Mas não houve um dia em que ela fosse embora sem companhia. Quando saía, nos dava um sorriso malicioso como se dissesse que a noite prometia.
E então, da noite pro dia, nunca mais a vimos. Ela parou de frequentar o Void. De um dia pro outro, ela simplesmente não tava mais lá. A história mais contada a todos é que conheceu um cara rico e cheio de fantasias sexuais e foram os dois embora para Los Angeles. Alguns dizem que simplesmente mudou de cidade. Nunca soubemos como ela se sustentava. Alguém disse uma vez que ela deve ter morrido por uma overdose de heroína. Não havia ninguém em seu apartamento. Não estava vazio, mas os móveis estavam em ordem. Talvez tivesse simplesmente se mandado em busca de outros bares, outros paus, levando sua arte aos confins dos subúrbios. A única coisa que sabemos é que nunca conheceríamos alguém como ela novamente. Sua arte, suas danças e sua música permaneceriam nas nossas lembranças e nossas punhetas em sua homenagem, ela que forçava os limites do ser humano e se tornava um Deus, bêbado e dotado.