Um inferno mais tranquilo
18 Jul 2016Era onze da noite quando a campainha finalmente tocou. Ela abriu a porta. Ele estava com a camisa rasgada, o rosto inchado e roxo e uma queimadura feia no peito. O mesmo hálito fedido de sempre.
– Meu Deus, o que aconteceu com você?
– Aquele velho nunca aprendeu qual é o lugar dele.
Cinco passos até a cozinha e ele desabou no chão derrubando os talheres e a comida que ela havia cozinhado especialmente para ele. Ela o ajudou a se levantar e o levou até a sala de estar.
– Espera que eu vou pegar algo pra lavar isso antes que infeccione.
Ela foi até o quarto e demorou uns dois minutos. Ele tentava se ajeitar na poltrona mas em vão, as molas penicavam sua bunda em todas as posições. “Merda de vida. Nem um pouco de descanso. Nem uma poltrona decente”, pensou.
Ela voltou com álcool e um pedaço de algodão e agachou-se à sua frente. Lavou o algodão com um pouco de álcool e começou a passar nas feridas e na queimadura.
– Ai, porra! Tá querendo me matar de vez?
– Estou tentando te ajudar, por favor, se acalme.
– Vai se fuder, você não sabe fazer nada. Vaza daqui, vou ver televisão – e jogou o algodão no chão. Ela abaixou a cabeça e se levantou. Sentou-se na outra poltrona e os dois se encararam. A televisão estava sem sinal.
– Até quando vou ter que aguentar isso?
– Até conseguir cozinhar algo que preste.
– O que? Eu passei a tarde toda cozinhando pra você, esse maldito prato que você tanto me perturba para que eu faça. Os ingredientes estão muito caros e a conta da luz está atrasada, mas não, você só quer saber de gastar o meu dinheiro com suas putas e bebidas! E agora quando tento te ajudar você me dispensa.
– Por Deus, por quê você não cala essa boca? Pelo menos as putas não reclamam. Como elas iriam reclamar com 19cm de pau dentro da boca?
Ela começou a chorar. Era quase impossível de acreditar – mas tudo era muito previsível. Fazia hora extra no trabalho para poder sustentar os dois e ainda tinha que aguentar o chefe tarado que não perdia uma oportunidade de passar a mão na sua bunda, e quando voltava para casa, era para isso.
– Não, vem aqui, não chora. Prometo que vou me comportar.
– Eu não quero mais viver nessa casa, NÃO QUERO MAIS VIVER COM VOCÊ!
– Mas do que você tanto reclama, porra? Sua tarefa é simplesmente fazer uma porra de comida decente mas nem pra isso você serve. Eu que mexo minha bunda todo dia procurando um emprego com toda essa crise acontecendo enquanto você trepa com o gordo do seu patrão. Só deve estar empregada por causa disso.
– “Procurando um emprego”? Você é um imprestável! Tudo o que você faz é se embebedar e depois pedir desculpas quando precisa de mim! E eu nunca trepei com ele! De onde você tirou isso? Mas ele me merece mais do que você.
– Claro, desde que ele tenha um aparador de grama no lugar do pau.
Ele se levantou e foi procurar uma cerveja na geladeira. Só havia temperos e nenhuma comida de verdade.
– Nem uma maldita cerveja nessa casa!
Fechou a porta com força, e alguns copos que estavam em cima da geladeira caíram no chão.
– Arrume isso. Faça algo.
– Peça a uma das suas putas.
– Já estou pedindo.
– Então é assim? Pois aprenda a cozinhar.
Ela saiu da sala pisando forte e foi para o quarto. Pegou sua mala velha no armário e a abriu em cima da cama. Começou a jogar suas roupas de qualquer jeito. Tentava segurar suas lágrimas mas elas caíam uma por uma nas roupas amassadas. Não se importou. Iria para a casa de sua mãe. Seria um inferno mais tranquilo. Fechou a mala e foi pegar as outras coisas quando uma sombra bloqueou a porta.
– O que você pensa que está fazendo?
Ele estava parado à porta do quarto com a camisa em seu ombro. Bloqueava a saída.
– Vou embora. Vou voltar para a casa da minha mãe e você pode apodrecer aqui.
– A casa da sua mãe? Aquele lugar fede a rola e camisinha usada. Talvez você tenha uma irmãzinha e nem saiba. Mas você não vai a lugar nenhum.
– Por favor, me deixa sair!
Ela tentou empurrá-lo para liberar o caminho mas seu tapa foi tão forte que a jogou no chão.
– Agora venha aqui – Ele a puxou pelos cabelos e a jogou na cama. – Faz tanto tempo que a gente não brinca, né querida.
Abaixou suas calças com um certo esforço, levantou seu vestido de e puxou sua calcinha, que mais parecia uma fralda, pro lado. Lambeu os dedos e os enfiou em sua buceta, em meio a todo aquele mato. Ela tentou se soltar mas o peso dele a imobilizava. Seu pau a penetrou forçadamente e ela nunca sentiu tanta dor na vida. Ela chorava, completamente humilhada, e com vergonha de si mesma. Era isso que a vida lhe havia reservado? Ela era menos que uma barata rastejante, uma formiga abortada. Havia chegado ao inferno e Ele era seu anfitrião.
Ele tirou o pau de dentro dela e vestiu novamente as calças, deixando-a ali paralizada de vergonha e medo.
– Esqueci como você é apertada, querida, haha. Uma buceta enorme assim e ainda apertada. Puta que pariu. Não sei como aquele viado do teu patrão consegue. Deve ter um pauzinho de merda.
Ele voltou para a sala e se sentou na poltrona velha. A televisão continuava ligada, muda e sem sinal. Acendeu um cigarro e ficou olhando para a estática. Naquele momento, toda a sua vida estava refletida ali.
Ela finalmente voltou à sala. Tremia e suas pernas quase não podiam se sustentar em pé. Olhava para Ele.
– Venha aqui, querida. Senta no meu colo, vamos relaxar. Tivemos um dia cheio, os dois.
A luz refletia seu olho inchado. Ela se sentou imóvel em seu colo. Não havia mais medo em seus olhos, apenas o reflexo frio da estática da televisão.
– Vamos dar um jeito em nossas vidas. Eu prometo.
A noite ficava cada vez mais escura enquanto o cigarro queimava em suas mãos.